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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Renúncia (Neimar de Barros)


Eu queria uma vida assim com você:
Sem relógio e sem dedo em riste,
Sem lei e sem sociedade,
Sem satisfação e sem tchau.

Eu queria uma vida assim com você,
Mas felizmente meu querer não é tudo,
E meu poder é limitado.

Felizmente minha palavra se esvai
E este papel se amarela.

Felizmente porque o bom é a espera,
A incerteza e o talvez são molas propulsoras,
Caso contrário, a alegria não teria razão
E o chegar não teria partida.

Eu queria uma vida assim com você:
Sem lenço e sem documento,
Mas o bacana é o adeus, é a volta,
É o riso depois do choro,
É o hoje sofrido e o amanhã exultante.

O bacana é o crescente, a renúncia,
A noite mal dormida, a consciência.

O bacana é a luta
É saber que existe o perdão
É a dúvida do não quero, mas quero!

Eu queria uma vida assim com você,
Mas como não a tenho
Posso escrever tudo isto.
Só assim eu posso medir-me,
E certificar-me da limitação humana

Só assim eu sei que nada sou,
Que vivo capengando
Carregando o que dá
E caindo com o que não dá.

Só assim eu sei o quanto quero,
O quanto posso e o quanto não devo.

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