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sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Seleção Brasileira volta pra casa (por mim mesmo)

Eu nunca gostei de futebol. Na verdade, nunca gostei muito de esportes com bola que envolvessem a presença de outros homens suados, com aquele cheirinho desagradável. Desde a minha infância, sempre preferi brincar com as meninas, na minha época elas não jogavam futebol, mas jogavam queimado (ou baleado) e isso era muito divertido. Lembro-me de certa vez termos vencido o campeonato escolar de queimado e levamos pra casa a medalha de ouro e a taça.


Embora preferisse a companhia feminina, confesso que tinha uma paixão pela natação o que me levou a praticar polo aquático, esporte que me ajudou bastante no tratamento da asma e no desenvolvimento físico.

Na época da copa do mundo, qualquer brasileiro tem lá sua torcida discreta ou explícita, ser brasileiro traz isso no genótipo. A cada quatro anos agente se reúne com os amigos em casa, no bar ou na rua. Veste a camisa verde-amarela, se adorna com as mesmas cores, usa cornetas e apitos, perde a voz. É uma emoção interessante de sentir.

O Brasil começou bem na copa de 2010, mas o excesso de confiança do brasileiro sempre o fez perder a guarda, se desarmar e foi assim que, mais uma vez, perdemos a oportunidade do hexacampeonato. Agora, nós brasileiros estamos sem o entusiasmo de assistir e torcer. Particularmente pra mim a copa já acabou. Nem me interessa saber quem será o campeão desta vez.

Dizem que o Brasil é o país do futebol e da cerveja, das mulheres bonitas, um paraíso. Verdade. Mas acho que precisamos reconsiderar algumas coisas.

Que o nosso país tem muita mulher bonita isso é incontestável. Brasileira tem molejo, tem ginga, tem beleza interior e formosura nas curvas que Deus se especializou fazendo nesta terra de Cabral. Paraíso porque somos livres de vulcões, tempestades, ciclones, terremotos e maremotos. Entretanto, nos últimos 10 anos, estamos sentindo as consequências da mudança climática global. Enchentes, secas ainda piores e até um terremoto de leve intensidade no nordeste modificam nosso éden. Refúgio pra fugitivos é coisa do passado. Nos filmes policiais não era difícil ver no roteiro um esquema de fuga do criminoso principal pra o Rio de Janeiro. Ó cidade maravilhosa.

Cerveja no Brasil tem mais sabor, nós não a criamos, mas melhoramos e muito o resultado final desta bebida de milho, cevada e lúpulo. E o futebol aqui é arte. Brasileiro nasce com a bola no pé ou na cabeça. Futebol é educação física, esporte, catecismo, lição de casa e da escola. Futebol é paixão nacional. Charles Miller deve estar todo orgulhoso no túmulo.

O problema é que muitos de nós só lembramos de que somos brasileiros e nos tornamos patriotas a cada quatro anos. Não usamos nossa bandeira em nossas casas, nossos automóveis e nossas roupas a não ser na época da copa e algumas vezes nas olimpíadas. Americano, não. Este tem orgulho da sua pátria, usa a bandeira até na roupa de baixo. E agente vive dizendo que o Brasil é o país do futebol, mas se esquece da música (ou lembra no carnaval), da arte, do teatro, do cinema nacional, da ciência nacional, da literatura e de tantas outras virtudes presentes em nossa pátria.

O Brasil é o país de Vila Lobos, de Tom Jobim, da Bossa, da música popular, do samba, do aché, do merengue, do forró, do rock, enfim de todos os ritmos e sons. O Brasil é o palco do teatro, da arte, da dramaturgia, da novela, dos atores consagrados no mundo, Rodrigo Santoro, Fernanda Montenegro. O Brasil é o país dos cientistas que se esforçam sem recursos e deixam um legado pro Mundo inteiro, ao exemplo de Oswaldo Cruz, Professor Pitangui, Sérgio Porto, César Lattes e tantos outros. O Brasil é a terra de Vinícius de Moraes, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Arnaldo Jabor, Pedro Bial, Ana Lins (Cora Coralina) e ainda muito mais.

O Futebol emociona, mas nossos meninos estão crescendo com o sonho de correr atrás da bola e se esquecem de que isso é um esporte rentável para uma minoria elitizada nesta profissão. Futebol paga bem, mais até que qualquer nobre profissão. Alguns nascem com o dom de correr atrás da bola e arremessá-las em redes, cestas e buracos. Mas a maioria precisa mesmo é correr atrás do pão.

Precisamos incentivar o esporte, mas ainda vale o pensamento da “mente sã em corpo são”. De que vale sermos o país do futebol, enquanto professores ganham salário mínimo, médicos um pouco mais do que isso, juízes de direito com salário inferior a craque de seleção, sem nos esquecermos dos milhões de operários que mantem a base da economia da indústria, comércio e agricultura? Será que vamos ter que educar nossos filhos ensinando-os que vencer na vida significa fazer gols? Que ter uma vida tranquila, com dinheiro e conforto, significa correr em campos de grama enquanto muitos desprovidos de sorte andam em campos de lavoura para nos alimentar?

Futebol emociona a todos, mas tranquiliza e enriquece alguns. É maravilhoso torcer, vibrar e se emocionar com o time do coração, porém também é preciso valorizar as outras virtudes brasileiras. Valorizar na mesma intensidade, com a mesma paixão. Digo isso porque sou apaixonado pela minha profissão e tenho grande admiração e respeito pelas demais. Porém transformar um hobby em uma profissão significa desqualificar as universidades e escolas de nosso país.

Esporte é vida, é saúde. Vamos correr atrás da bola, mas sem perder o ânimo para ler, escrever, produzir, trabalhar. Porque, apesar de a seleção de futebol brasileira estar arrumando as malas para retornar e de para alguns a copa já ter acabado, a vida do cidadão brasileiro continua a mesma no estudo e no trabalho. Nem melhor, nem pior. Perdemos a copa do mundo, mas estamos certamente ainda mais esperançosos.

Brasileiro é brasileiro, não desiste nunca.

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