sexta-feira, 23 de julho de 2010
Casos reais no cotidiano de um médico no interior (by myself)
Hoje começarei a descrever aqui fatos reais e inusitados por mim vividos dentro de hospitais e consultórios, situações engraçadas do meu cotidiano bem interessantes, resguardando os nomes reais das personagens.
Uma dor certamente estranha.
Dona Antônia era uma senhora de 76 anos de idade, bastante maltratada pela função de lavradora que exercera por longos anos. Trabalho esse que deixara marcas e saudades. Pois Antônia vivia reclamando da falta de condições de ainda limpar seu feijão, colher seus amendoins e cuidar das galinhas como antes. Eu achava incrível a vitalidade dos meus pacientes idosos tendo em vista o fato de a preguiça ser tão contagiante para os jovens.
Pois bem. Uma das maiores queixas de D. Antônia era o fato de suas costas estarem apodrecidas, por causa da “stopirois”. Pra um médico iniciante entender certos termos poderia ser complicado, as consultas eram mais demoradas, o diálogo era mais uma arguição do vocabulário local que um ensinamento de conselhos médicos. Confesso que essa situação me agradava. Aprendi muito com meus pacientes, na verdade ainda aprendo.
Como era essa dor? O que era a “stopirois”?
- Dona Antônia, a senhora poderia me explicar melhor como é esta dor que a senhora sente?
- Claro meu filho (a maioria deles me chamava assim), vou te contar. Essa dor é uma atracação terrível nas costas, acontece toda vez que tento usar a enxada, começa sempre do mesmo jeito: sobe rasgando e desce costurando.
Pronto. Estava explicado, mas não muito bem entendido. Afinal se uma dor sobe rasgando e desce costurando ela não já estaria boa?
- Dona Antônia, por favor, se essa dor subiu e desceu consertando o estrago que ela fez, o que lhe preocupa tanto?
- A “stopirois” doutor, é ela quem me preocupa, ela é quem está me estragando.
E agora? Eu não tinha aprendido sobre esta patologia na Universidade. Apelei mais uma vez.
- Dona Antônia, conte-me mais um pouco sobre a sua doença, onde exatamente ela a incomoda?
- Em tudo, meu filho, em tudo. A dor passa pelo corpo todo, anda pra um lado, corre pra o outro. Tudo dói, meus ossos estão todos fracos, um exame que fiz disse que eles estão fracos, sem “calci”.
Pronto, havia matado a charada. Minha idosa paciente estava com Osteoporose e sentia muitas dores quando tentava trabalhar. Faltava-lhe cálcio nos seus ossos.
Vamos ao tratamento. Ela era uma paciente muito comportada. Fez tudo o que pedi e orientei.
E assim, pude acompanhar minha paciente, Senhora Antônia, por quase dois anos, quando deixei de exercer a função de médico no interior de Sergipe fixando-me na capital.
Se ainda estiver viva, espero que suas dores tenham parado de correr, andar e subir ou descer. De preferência que elas tenha ido embora, voando, pra bem longe.
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